Futuro da Amazônia pode ser sem destruição
A mentalidade dos fazendeiros da região, aos poucos, começa a mudar. Agora, surge uma nova visão, a da exploração econômica racional.
imprimir Na série especial sobre a Amazônia que o Jornal Nacional apresenta nessa semana, nós dissemos, na última quinta-feira, que a expansão da soja derrubou 40% da floresta em Mato Grosso. Mas esse estrago todo foi culpa também do avanço dos pastos para a pecuária e da construção de cidades. Nesta sexta, na última reportagem da série, produtores rurais, autoridades e cientistas dizem o que pode ser feito para aumentar a produção e combater a destruição da mata.
Os tempos são outros. A mentalidade dos fazendeiros da Amazônia, aos poucos, começa a mudar. Everton, produtor de soja em Mato Grosso, quis mostrar não a lavoura no ponto de colheita, e sim um projeto do qual se orgulha muito: a recuperação da mata original em uma área de nascente de água.
“Há cinco anos atrás, não existia essa água que tem aqui hoje. Devido a reflorestamento em roda na nascente, ela está começando a aparecer e futuramente vai ter mais ainda. Vai ser água com correnteza forte aqui, se Deus quiser”, disse.
Ele plantou mogno, cedro, jatobá, aroeira, pau brasil. Fez isso não só para se enquadrar na lei ambiental, mas também por razões econômicas: ao recuperar as reservas de água, a soja vai render mais.
Fazendeiros que respeitam o meio ambiente se ressentem da imagem negativa que ficou da época da ocupação altamente predatória: “Quando nós fomos chamados pra vir, nós fomos chamados com o lema que era ‘integrar pra não entregar’, isso era o que o Governo Federal chamava as pessoas pra poder vir. Quem veio naquela época, na década de 60, 70, era um herói. E hoje nós somos considerados os bandidos”, declarou o fazendeiro Mauro Lúcio Costa.
A nossa compreensão sobre a Amazônia passou por fases distintas. Até as décadas de 70 e 80, a floresta era vista como terreno a ser ocupado e explorado intensivamente. Depois, quando se despertou para a importância da biodiversidade da floresta, passou-se para o extremo oposto, toda a área deveria permanecer intocada. Agora, surge uma nova visão, a da exploração econômica racional da Amazônia. Será que é possível gerar riqueza, sem destruir a floresta?
A resposta do ex-governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, é sim. Ele explica que é possível recuperar pastos degradados para dobrar a produção de soja do estado.
“Nós temos que reduzir a quantidade de gado nos pastos, trazendo para confinamentos ou semiconfinamentos e liberar esses espaços pra agricultura, que hoje são da pecuária. E ao mesmo tempo não deixar que a pecuária avance sobre novas áreas da floresta”, disse.
A pecuária será vigiada pelo mercado. É a previsão do ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, com base em um acordo com supermercados para banir a carne de desmatamento.
“Segundo semestre desse ano, carne originada de desmatamento tanto da Amazônia, quanto do cerrado, do Pantanal, vai está fora das prateleiras dos supermercados. Eu acho isso mais eficaz do que muitos fiscais e muitos policiais”, afirmou.
E a madeira vai se tornar mais rara e mais cara, de acordo com o instituto Imazon, que usa imagens de satélite para caçar madeireiros ilegais: “Tem um grande Big Brother que permite que o setor madeireiro seja vigiado de todos os lados. O madeireiro vai ficar muito difícil ele se esconder do satélite. O satélite vai localizar onde tem exploração ilegal. Essa informação vai para o governo, vai para os órgãos de fiscalização, vai para a imprensa e vai ter uma pressão muito grande para coibir qualquer exploração ilegal que tenha na Amazônia”, alertou o coordenador de pesquisas do Imazon, Adalberto Veríssimo.
“O que nós temos agora que provar para o mundo é que nós somos bons gestores da Floresta Amazônica. Isso não significa manter a floresta intocada e o povo pobre. Também não significa desenvolvimento a qualquer custo, desmatar a floresta. É o equilíbrio que poucos países no mundo conseguiram. A maioria que tinha floresta não conseguiu. Nós estamos em busca de algo inédito. O Brasil tem as condições pra isso. Agora, precisamos avançar”, declarou Justiniano de Queiroz Netto, das Indústrias Exportadoras de Madeira do PA.
G1
sexta-feira, 23 de abril de 2010
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